
Aos que ainda não sabem, sou relativamente novo, tenho 18 anos. Quase todos os meus ídolos estão mortos. E eu não “vi” nenhum deles...
Desde pequeno me interessei absurdamente por arte, fiz teatro, música, montagens e peças na escola, e conforme crescia descobria artistas geniais que não estavam mais em cena. Ouvi John Lennon, Elvis Presley, Janes Joplin, Bob Marley, Elis Regina, Cazuza... Ah o Cazuza, meu maior ídolo, minha maior mágoa... Se eu tivesse nascido um ano antes, apenas um miserável aninho, teria ao menos habitado a terra enquanto ele ainda vivia. Eu cresci admirando-os e não vendo nada igual, nada original.
Eis então que entre os vivos descubro que no mundo da música ainda existiam altezas. Madonna, a rainha do pop, e Michael Jackson, o rei do pop. Passei a acompanhar suas carreiras e me render às coreografias impecáveis, aos sintetizadores e as batidas inovadoras que não te deixam parado. Descobri que tudo o que eu ouvia, o que surgia constantemente na mídia, sofria alguma influência dessas “altezas”.
Falando mais especificamente de Michael: Eu não habitava esse mundo quando ele emocionou a todos cantando “Man in the Mirror” no Grammy, ou dando voz aos esquecidos da África liderando a campanha “We are the World”, e muito menos quando lançou “Thriller”, o disco mais vendido no mundo, até hoje, ou quando inovou criando o vídeo clipe homônimo com orçamento milionário, aspecto de cinema e roteiro genial. Porém eu soube de tudo isso, eu “revivi” esses momentos. O que eu realmente “vi” foi a vida pessoal de Michael entrar em total declínio. Porém isso pouco me importou, afinal o artista genial já estava composto muito antes de eu (se quer) nascer.
A figura Michael Jackson – assim como todas as outras que eu citei no início do texto – chocam a todos, são grandiosas demais aos olhos de simples mortais como nós. Que não temos milhões de fãs e não somos reis de nada, a não ser do nosso próprio destino.
É tão difícil imaginar Michael morto quanto imaginar o planeta sem água. É tudo grandioso demais... Mas as coisas grandiosas um dia acontecem... E as conclusões se tornam assustadoras.
Sim, assustadoras. A certeza de que tudo o que é pioneiro está se esvaecendo, de que “realezas” estão se indo – e que “cópias” surgem diariamente, de que não sobra mais nada que julgávamos imutavelmente genial, de que os tempos realmente estão mudando, e “apenas” deixando-nos suas lendas, seus melhores legados, e suas lembranças. Chegou a hora do senhor tempo se vingar de nós, que tanto corremos contra ele, e levar consigo os que amamos, ou estávamos acostumados a simplesmente “ter”.
Michael deixa mais do que milhões de fãs sem referência, sem substituto. Ele deixa em todos – incluindo os que não são seus fãs – um sentimento de perda por algo imensurável, algo capaz de mesmo depois de morto parar o mundo e se tornar o centro das atenções. Seu ser. A grandiosidade de Michael como artista, que nem se quer foi abalada por sua vida conturbada, será lembrada para sempre. Mas eu gosto de ir muito mais além, eu gosto de pessoas, eu gosto de sentimentos em sua mais pura essência. A mim fará falta outro tipo de Michael, o menino que habitava seu coração. O “Peter Pan” que ele havia se tornado, segundo suas próprias palavras. Ele era Michael Jackson, o gênio, mas no coração era Peter Pan, a criança. A voz doce, quase infantil, que no palco se tornava infindável, assustadora. O “menino frágil” que dançava como se fosse ligado na tomada e rodopiava feito um peão.
Michael “vai”, mas nos deixa um legado incontestavelmente genial. Leva com ele todos os seus sonhos, e afunda de vês as esperanças dos que, assim como ele, gostariam de ser jovens para sempre. Não existi formula química, e nem “terra do nunca”, que nos faça fugir da morte. Ela sempre chega, ela sempre nos pega de surpresa, ela sempre nos arrebata. Quando uma pessoa vira lenda, é sinal de que ela não viveu em vão, quando uma pessoa mesmo depois de morta continua sendo amada, é outro sinal de que ela não viveu em vão. Então, o que dizer de uma pessoa que acaba de se tornar uma das maiores lendas do mundo? De alguém que continuará sendo amado por milhões de pessoas? É tudo muito grandioso, é tudo muito genuíno... Somente mesmo um homem, com um coração de menino.
Nathan Lilja